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10/12/2018

Léo Pinheiro e César Mata Filho, mestre e pupilo da OAS, dividiram mesma prisão

No auge das operações da OAS, quando a empreiteira despontava como uma das mais promissoras do mercado brasileiro ao lado de gigantes como Odebrecht, um dos herdeiros do grupo, César Mata Pires Filho, acompanhava com admiração a maneira como o então presidente da empresa Aldemário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, conduzia os negócios. Influente e com trânsito na alta cúpula da política, ele via em Léo o futuro que queria seguir. Filho do sócio majoritário e fundador do grupo — de quem também herdou o nome, César Mata Pires, morto em 2017 em decorrência de um ataque cardíaco — Cesinha, como é chamado nos círculos mais íntimos, ocupava a vice-presidência do grupo até chegar sua hora.

A deflagração da operação Lava Jato em 2014, que colocou Léo atrás das grades e levou a OAS a entrar em recuperação judicial, enterrou os planos do empresário. No domingo (25), Cesinha acabou detido por nove dias na mesma carceragem onde seu antigo mestre está preso. Só saiu depois de pagar uma fiança de R$ 29 milhões que está sendo questionada pelo Ministério Público.

Assim que se entregou na PF, o empreiteiro foi informado de que estava proibido de ter qualquer contato com Léo e foi levado para a ala da esquerda da custódia. O ex-presidente da OAS fica na direita, onde estão os delatores e candidatos a fazerem acordo. Para evitar a aproximação entre mestre e pupilo, os horários de banho de sol foram alterados e os grupos iam ao pátio em períodos distintos. As visitas dos advogados no parlatório também foram coordenadas para que eles não se cruzassem. Às pessoas próximas, Léo lamentou a prisão do “menino que viu crescer”.

A relação entre Léo e Cesinha vai além da admiração. Quando o então presidente da OAS foi preso e optou por tentar uma delação premiada, César Mata Pires, que na época estava vivo, apoiou o sócio e amigo. O combinado era simples: Mata Pires arcaria com as despesas da defesa e da família de Léo, que não ficaria desamparada, e em contrapartida o empreiteiro aliviaria a culpa que poderia recair sobre seus filhos, Cesinha e Antonio Carlos Mata Pires, ambos com cargos de comando na empresa.

O plano caiu por terra. Entre idas e vindas, o acordo de Léo não foi fechado. Em paralelo, um grupo de executivos que trabalharam na área de pagamentos de propina e Caixa dois da OAS fechou delação e colocou Cesinha como responsável pela aprovação dos pagamentos ilícitos. O herdeiro da OAS, que a partir de 2017 já tentava buscar seu lugar ao sol entre os delatores, também viu sua tentativa frustrada. Procuradores avaliaram a proposta de delação do executivo como "sem novidade" e com "contenção de danos" para o universo político. O sonho de Cesinha de circular na alta cúpula do poder nunca esteva tão distante.


Fonte: https://epoca.globo.com/leo-pinheiro-cesar-mata-filho-mestre-pupilo-da-oas-dividiram-mesma-prisao-23288694